O projecto fotográfico que acompanha o álbum No True Magic foi pensado de raiz como um complemento sincero ao método de trabalho da dupla João Rui e Jorri. Resolvemos portanto dar continuidade ao carácter analógico da relação que os músicos mantêm com os seus instrumentos de trabalho, e desenvolver um conjunto de imagens que vivesse do próprio corpo da matéria fotográfica, deixando que fossem as texturas e a cor, evidenciadas pelo gesto do(s) autor(es), a revelarem o universo a Jigsawiano.
Entendemos o epíteto de não haver verdadeira magia como um apelo à crença na realidade, numa atitude de algum modo niilista que rejeita a ‘essência’ e clama para si a beleza singela do dia-a-dia e a simplicidade do modo de estar em natureza. É neste contexto que foram pensadas as características singulares que compõem as presentes fotografias e que resultam, antes de mais, da opção de nos livrarmos ao máximo de apetrechos e de teatralidades que pudessem constituir uma ameaça à autenticidade da arte dos a Jigsaw.
A escolha de um processo de captura em película infra-vermelho ajuda a concretizar a relação do momento fotográfico entre o ‘aqui e o agora’, relação essa que evocando a fugacidade do passado evidencia a morte do tempo, elemento sempre presente tanto no discurso fotográfico como no discurso dos a Jigsaw. As impressões finais foram realizadas sobre madeira (carvalho polido), com aplicação de uma emulsão direta de sais de prata. Este suporte permitiu não só colocar em destaque o gesto do(s) criador(es), na sua intervenção direta de sensibilização do suporte, como também atribuir ao projeto qualidades de singularidade e unicidade que são próprias dos métodos artesanais.
Pelos atributos já enunciados, o conjunto fotografia/impressão torna possível uma relação de proximidade e imediatez entre o espectador e o autor, relação essa que presta homenagem à honestidade dos laços criados pelos a Jigsaw com os seus espectadores e ouvintes, bem como à sua própria concordância entre o que são e o que parecem ser, sem truques de magia.
Paula Lourenço, Miguel Duarte e Sofia Silva.
Tomar - Lisboa, Setembro de 2014